É muito louco como as pessoas estão escolhendo quem manter ou excluir de suas vidas utilizando critérios bem frágeis.
E digo isso tanto nesse mundo “sólido” do dia a dia (mas que de sólido não tem nada), quanto no virtual. E, até mesmo, naquela proximidade emocional com famosos ou pessoas públicas.
Se sentimos que aquela pessoa se aproxima de alguma opinião que já possuímos, maravilha. Mantemos por perto. Seguimos, elogiamos, divulgamos, aplaudimos de pé…
E, muitas vezes, até ficamos babando pela pessoa. Pronto, a pessoa parece perfeita.
Se for famosa e estiver mostrando que pensa como nós então, vira quase um deus ou deusa.
Entretanto, se em determinado momento a pessoa manifesta opiniões diferentes das nossas sobre algum tema que damos mais atenção, a coisa já começa a desandar.
Às vezes aquela pessoa está mesmo tendo uma opinião equivocada sobre esse tema. Ou, muitas vezes, é ela que está tendo uma visão mais ampla e correta do que nós.
Mas, como geralmente achamos que nós é que estamos certos, não conseguimos enxergar isso, e já passamos a torcer o nariz. E por causa de um único tema, um único ponto de divergência.
Aí algumas coisas podem começar a acontecer.
No tal mundo físico, afastamo-nos aos poucos dessas pessoas e até as excluímos de nossas vidas.
Ou, no virtual, deletamos das nossas redes sociais ou até paramos de seguir, e ainda descemos a lenha nelas por aí, criticando e colocando a pessoa quase como monstra. E, de novo, só porque ela enxerga diferente da gente.
E não estou falando só em assuntos sérios, não. É bem comum encontrar esse tipo de postura em relação aos mais variados temas. Mesmo naqueles bem bobinhos.
“Pensa diferente de mim? Não quero nem me dar ao trabalho de ouvir e refletir. Tchau!”
Porém, Mudamos de Opinião Com Frequência…
Mas olha que louco isso.
Você já deve saber que é comum nós mudarmos de opinião ao longo do tempo. Daqui dez anos, provavelmente, você terá uma visão diferente da que tem hoje. Sobre vários tópicos.
Às vezes são mudanças bem grandes e opostas, e às vezes são mudanças mais sutis.
Aí, afastamos várias pessoas da nossa vida – seja no mundo físico ou virtual -, só porque elas pensavam um pouco diferente da gente em alguns pontos. Nem avaliamos de forma mais profunda sobre a opinião dessas pessoas sobre vários outros temas, e até mesmo suas ações no mundo.
Não procuramos ver possíveis pontos positivos; como a visão de mundo dela pode ter seu valor; ou mesmo como podemos nos beneficiar com a visão dela e crescer, mesmo quando discordamos.
Afinal, não é só com pessoas que pensam igual que nós aprendemos e crescemos. Pelo contrário. É mais comum crescermos com quem pensa diferente, pois quem pensa igual faz com que a gente fique naquele platô de sempre, pois não nos desafia.
Mas não. Simplesmente vamos na impulsividade, no simples “gosto/não gosto” e cortamos relações com a pessoa, excluímos, paramos de seguir etc.
“Fim. Desaparece da minha vida. Não vou mais com a sua cara”
Mas então, daqui um tempo, mudamos de opinião. Sobre várias coisas. E aí, como fica?
Fomos excluindo pessoas, baseados em critérios fracos, e perdemos inúmeras oportunidades de reflexão, de crescimento, de ver as coisas de outra forma… Ou mesmo de conhecer aquela pessoa melhor e ouvir sua opinião sobre vários outros temas. E, quem sabe assim, até nos levasse a rever nossa opinião sobre ela.
E o pior. Muitas vezes nós é que estávamos errados ou pensando de forma limitada, raivosa, menos compassiva e amorosa sobre algum tema. Mas achávamos que estávamos certíssimos.
Os Ignorantes Que Se Acham Sábios
Tem até um fenômeno bem interessante em relação a isso. Chama-se efeito Dunning-Kruger.
Bem resumidamente, é um fenômeno onde pessoas que sabem pouco sobre um determinado assunto, acham que sabem muito mais do que outros que estão muito mais capacitados.
Imagina quantos erros não cometemos achando que sabemos muito e fechando um monte de porta por aí porque os outros não pensam igual a nós?!
Aceitamos Qualquer Um, Então?
É claro que também não temos que ficar tendo contato com qualquer um, seguindo todo mundo e apoiando tudo que falam e fazem por aí. Temos sim que ter bons critérios e saber fazer um bom filtro.
Apenas temos que tomar cuidado para não colocar as pessoas em patamares de “lixos”, “monstros”, “imbecis”, “inúteis”, só porque divergem da gente em algum assunto.
E é muito comum ver isso acontecendo por aí. Tanto no virtual quanto fora dele.
A diferença é que no virtual a coisa desanda ainda mais, pois nos sentimos mais à vontade para mostrar nosso lado mais obscuro. Fora dele ainda somos mais contidos, pois as consequências são mais fortes e imediatas.
Quanto mais radical formos em nossas ideias, maior a chance de estarmos limitando nossos pensamentos e deixando de enxergar vários outros pontos.
E ainda que a pessoa esteja mesmo errada naquele assunto, isso não faz dela um monstro ou um lixo. Você também não erra?!
Aposto que se analisarmos a fundo nossos pensamentos neste exato momento, vamos encontrar vários pensamentos bem equivocados ou limitados sobre diversos temas.
A diferença é que quando somos nós mesmos nos analisando, não é fácil descobrir que estamos equivocados. Mas quando ouvimos outras opiniões e nos permitimos fazer uma autoanálise verdadeira, sem o ego nos iludindo, vai ficando mais fácil perceber que… “É… não era bem por aí. Eu estava equivocado”.
E aí, somos lixos por isso? Inúteis? Monstros?
É claro que não!
Quando se trata de nós, queremos mais tolerância. Quando se trata dos outros, descartamos com imensa facilidade.
A pergunta é:
Que tipo de mundo estamos construindo assim? Que tipo de evolução teremos – como indivíduos e sociedade?
Todos Nós Sofremos Com Isso
Eu sei que muitas pessoas não vão com a minha cara, criticam um monte de coisa, não concordam com alguma opinião que tenho, me excluem, param de seguir… e por aí vai.
Mas a imensa maioria desses sequer me conhece. Esbarraram comigo em algum lugar, viram uma postagenzinha aqui e ali ou uma brincadeira que fiz em um momento mais descontraído, e… pronto. Construíram uma imagem desagradável sobre mim e já torceram o nariz.
Mas aí eu te pergunto:
- Quantas pessoas realmente me deram a oportunidade de abrir meu coração ou de dar minha opinião sobre alguns assuntos?
- Quantas ouviram com paciência e se esforçaram para enxergar outros pontos de vista?
- Quantas procuraram conhecer ao menos um pouquinho da minha história, minhas dores, meus medos, tropeços, sucessos, alegrias, sonhos… seja pessoalmente ou no virtual?
Pois é. E aposto que é assim com você também. Acertei?
Claro que nem sempre conseguimos aprofundar tanto assim! Falta tempo, oportunidade etc.
Mas o ponto importante aqui é abrir espaço e se conectar de uma forma um pouco mais profunda com o outro, mesmo que seja em um contato mais breve.
Sim, mesmo com pouco tempo, em conversas mais simples e rápidas, é possível se conectar mais com o outro. Tudo depende da troca que temos, dos assuntos que abordamos e da abertura que damos.
Mas quem procura fazer isso hoje em dia?
Sabemos que é bem raro! Exatamente porque precisa ter maturidade e coragem para tal, e estamos carentes disso. Um boa dose de autoconhecimento ajudaria muito aqui.
Nem Nossos Amigos Nos Conhecem!
Sabemos muito bem que é raríssimo encontrar até mesmo amigos que realmente procuram se conectar com a gente, com nosso coração, ter uma relação mais profunda, mais amorosa, mais compassiva, mais significativa. E mesmo quando a gente já conhece há anos e tem contato frequente.
A verdade é que as pessoas têm medo de se conectar umas com as outras. Não importa há quanto tempo já se conheçam.
Se não fazemos nem mesmo isso, se não procuramos nos conectar verdadeiramente nem mesmo com as pessoas que nos cercam e que já temos uma certa afinidade, imagina como não estamos agindo com as pessoas em nosso dia a dia, que nem construímos laços…
E ainda depois queremos que o outro seja um ser perfeito… Sendo que o tal “perfeito” que queremos, na verdade, não é bem perfeito e evoluído, né? Porque basta pensar diferente de nós e já mudamos o status dele em nossa mente.
Queremos, sim, seres que pensam como a gente. Mesmo que estejamos tendo ideias bem equivocadas e limitadas sobre um determinado tema. É mais confortável assim. Gostamos do confortável.
O problema é que é esse “confortável” que atrasa nossa evolução e cria uma sociedade tão frágil e conflituosa como a em que vivemos.
Espero que a gente consiga ter posturas mais maduras diante desses fatos da vida. Porque ser adulto não é só ter um corpo grande, certa idade e pagar suas próprias contas. É também ter maturidade e inteligência emocional para lidar com o diferente e ver como podemos nos ajudar e crescermos juntos.